O historiador tem mais de 50 anos de dedicação ao ensino

Por
Eliete Viana
Data de Publicação
21/09/2017
Editoria
Institucional

 

Em cerimônia realizada no Salão Nobre da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, na tarde do dia 20 de setembro, foi entregue o título de professor emérito a José Jobson de Andrade Arruda.

“Quis o destino que eu presidisse esta mesa durante a cerimônia. A indicação de José Jobson de Andrade Arruda para receber o título de professor emérito foi feita há mais de três anos, quando eu estava afastada de atividades da Faculdade”, destacou a diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda, em referência ao fato de ser esposa do homenageado, durante a abertura da sessão solene. 

O professor Jobson, como é mais conhecido, entrou no recinto acompanhado de três professores eméritos da FFLCH: Davi Arrigucci Júnior, Fernando de Novais e João Baptista Borges Pereira.

Presente e futuro 

Após as assinaturas dos integrantes da mesa, o pró-reitor de Pesquisa da USP, José Eduardo Krieger, representando o reitor Marco Antonio Zago, fez uma saudação. “Reverenciar o passado, como estamos fazendo aqui, só tem sentido se ele reverenciar o futuro. E essa homenagem hoje significa isso”. 

O chefe do Departamento de História da FFLCH, Osvaldo Luis Angel Coggiola, cumprimentou o homenageado. “[O professor Jobson] Representa uma trajetória intelectual, uma trajetória política-institucional, visto que ele também foi chefe do Departamento, e em uma época que havia grande disputa para o cargo, no período de redemocratização do Brasil”, destacou Coggiola em alusão aos dois períodos em que Jobson ocupou a função citada, de 1986-1988 e 1988-1990.

Coggiola lembrou que a universidade está diferente daquela que Jobson vivenciava até sua aposentadoria, em 1998, mas isso não significa que ele não está envolvido com o presente da Instituição. “Jobson não é o passado e nem só o futuro, é o presente por também atuar como professor sênior em nossa Faculdade” finalizou.

Trajetória docente 

Em nome da Congregação da Faculdade, a professora do Departamento de História, Vera Lucia Amaral Felini, falou da trajetória docente de Jobson. A professora lembrou que logo após a graduação, Jobson já ingressou na atividade docente na Unidade. 

“Sua atuação como professor não começou, porém, com as aulas de História Moderna [na Faculdade]”, explicou Vera. Pois, segundo ela, ele começou a dar aulas, desde o segundo ano da Faculdade, em cursos pré-vestibulares e colégios técnicos, “que, na década de 60, era opção de trabalho para alunos brilhantes da USP”, destaca.

Jobson deu aulas durante 17 anos no colegial (o que seria hoje o ensino médio) e no pré-vestibular do Objetivo. Sobre este período, Vera ressaltou que “as aulas que eletrizavam os jovens, fazendo que assistissem às classes repetidas vezes, pelo rigor do conteúdo, pela linguagem, transformaram-se em livros didáticos que formaram gerações; ou seja, o legado do professor no campo de livros didáticos é imenso”.

Ela lembrou também que esse sucesso nos livros didáticos se deu porque “essas obras, além do cuidado factual, carregam a carga interpretativa burilada e sempre atualizada em suas aulas na universidade. Porque Jobson continuava dando aulas na USP, todos os semestres e fazendo pesquisa”. 

Vera também comentou sobre a participação de Jobson em grupos de pesquisa até cargos administrativos dentro e fora da USP. 

Ela frisou que o novo professor emérito da FFLCH tem participação destacada junto à Cátedra Jaime Cortesão – que a professora preside atualmente –, desde à época de sua fundação, em 1991, até os dias atuais, em que o professor tem coordenado grupos de pesquisas e estimulado novos estudos.

“Sua atuação na Pós-Graduação também tem sido intensa, de 1978 até agora, foram mais de 90 trabalhos orientados e defendidos. Além disso, está sua contribuição para a História: um marco na História Econômica, uma referência na Historiografia Brasileira. Nessas cinco décadas, foram mais de 40 artigos, no Brasil e no exterior; 10 livros acadêmicos, 7 livros organizados e 48 capítulos de livros”, destacou.

Para finalizar, Vera resumiu. “O professor Jobson, como atestam suas pesquisas em andamento e sua volta às aulas da graduação no Departamento de História, neste semestre, ainda tem muito a nos dizer”.

Reflexão 

Após a saudação, a diretora da FFLCH fez a entrega oficial do diploma de professor emérito à Jobson. O novo professor emérito da Faculdade – o 57º a receber esta homenagem na Unidade – agradeceu a outorga do título e a presença de todos na cerimônia, em especial aos seus alunos de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), que veem do Rio de Janeiro para terem aulas com ele na USP.

Depois, Jobson fez uma explanação, em forma de aula, sobre três questões fundamentais referentes à produção de conhecimentos teóricos e metodológicos resultantes das experiências vivenciadas por ele em meio século de vida acadêmica na USP: os conceitos de historiografia, transtemporalidade e história econômica. “Fundamentais para quem é professor de História e reflete sobre História”, frisou. 

“A historiografia é, para mim, a própria consciência que o historiador extrai da experiência social da humanidade entranhada no movimento de história. Trata-se de uma ferramenta insubstituível do arsenal do historiador. (...)Concebe-se a historiografia como a análise crítica das obras históricas produzidas pelos historiadores e dos próprios historiadores em sua imersão temporal”, explicou.

A segunda reflexão refere-se ao conceito de temporalidade no ofício de historiador.  “Assume-se que o historiador recria o passado imerso em sua própria temporalidade, constrangido por suas circunstâncias que são tanto as do tempo presente, quanto dos tempos sobre os quais trabalha o passado e o futuro. Ou seja, ao elaborar a síntese, sua mente opera tanto com o passado recuperado quanto o futuro pressentido”, destacou. 

Por último, falou sobre o conceito de história econômica. “O que significa pensar sobre minha disciplina de eleição, e propor uma história econômica aberta, travejada na política e banhada na cultura”.

Na explicação, o professor tratou do capitalismo, produção, consumo, globalização, indústria cultural. “Os símbolos viajam, aderem a contextos sociais diversos e, por decorrência, a diferentes contextos históricos em diferentes momentos de sua trajetória. É, portanto, para esta interpenetração dialogal entre os esquemas simbólicos e os recursos materiais, que o historiador da história econômica deverá estar alerta”. 

Pois, segundo Jobson, à medida em que o capitalismo como sistema histórico tornou-se parte de uma totalidade maior de produção de bens simbólicos, num dado sistema cultural, “as abordagens alicerçadas em termos estritamente econômicos revelaram-se insuficientes para dar conta da complexidade da vida social e, por desdobramento, da verdade histórica possível”.

Presenças ilustres 

Ao final, fez os agradecimentos a sua família, em especial à esposa, Maria Arminda, por mais de meio século. “Contigo divido este título que tanto me honra e faz feliz!”.

Emocionada, a diretora Maria Arminda fez o encerramento da solenidade. “As instituições vivem também de seus momentos rituais”. 

Além da família e das autoridades já citadas acima, o evento foi prestigiado por muitos professores da FFLCH, das Unidades da USP e de outras universidades.

Pela FFLCH, pode-se destacar: o professor emérito Sedi Hirano - que também foi diretor da Unidade (2002-05) e pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da USP (2005-07) -; o chefe do Departamento de Sociologia, Ruy Braga.

Da USP, a ouvidora-geral, Maria Ermínia Tavares de Almeida; o diretor da Faculdade de Odontologia e superintendente do Hospital Universitário, Waldyr Antonio Jorge; e o chefe do Departamento de Direito Internacional e Comparado da Faculdade de Direito, Paulo Borba Casella.

De outras instituições, compareceram o vice-reitor da Universidade Paulista (Unip), Fábio Romeu de Carvalho; e a presidente da Associação dos Amigos do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, Roberta Matarazzo.